Fonte: Google Imagens.
Entre as Sete Colinas um garoto flagrava-se corriqueiramente em devaneios filosóficos, seu nome era Zumbi, estava na maior parte do tempo à companhia de Jumbá, este tinha pensamentos mais idealistas que o amigo e, era comum haver choque entre suas ideias, todavia, a pureza da juventude ainda repousava em seus espíritos, o que lhes garantia a amizade. Ambos filhos de pais religiosos, retos e disciplinados, exemplos de moralistas.
Sete Colinas, prelúdio do inverno de 2015.
-Jumbá, percebestes que a humanidade é manca? Fala Zumbi, fazendo o amigo franzir as sobrancelhas e pergunta:
-Manca?
-E quase todos os homens usam muletas!!
Com tais palavras ditas, os galhos da macieira, que avançavam destemidos para o meio do lago, balançaram-se; o vento frio parecia ter adentrado à barriga de Jumbá.
-Não... Não, na verdade poucos a usam muletas ora! Do que estais falando meu amigo Zumbi?
- Poucos? Jumbá amigo meu, teus pais saem todos os domingos pela manhã dizendo que estão pesados, enfadados e precisam aliviar as dores, falam que não podem suportar a vida sozinhos, não é mesmo?
- Sim é verdade, Zumbi. Mas o que tem?
- Eles voltam mais leves?
- Mas é claro! Voltam com todo ânimo!! Disse Jumbá categórico.
- Sim, de fato a dor foi aliviada. Já parou de pensar o que eles trocam por essa "ausência" de dor?
- O que eles trocam?... Ora...hm... Ora trocam essa Terra mundana por um pedacinho no paraíso, trocam suas vontades por caminhos melhores. Dariam todas as suas riquezas se preciso for, mesmo tendo poucas (Neste momento Jumbá recorda da sua casa pobre e a ausência de comida em quantidade satisfatória, mas prossegue) porque sabem do seguinte: mesmo sofrendo nesta vida terão uma eternidade de bonança! Eles abdicam de muitas vontades e desejos pois a maioria não agradam a Deus. Entende?
- Hm... Zumbi refletiu, olhou o entorno do lago, uma maça as beiras da lâmina d'agua. O tipo de momento que merecia ter mais que um breve espaço no tempo, para Zumbi isso era belo e forte. Voltando ao assunto falou, com ar irônico:
- Sofrer na terra vale a pena, qual pessoa em sã consciência não trocaria míseros anos de sofrimento ou miséria total em terra por uma eternidade em um paraíso?
- Pois é e você não trocaria, Zumbi?
- Não.
- Falastes a pouco quão grande vantagem é seguir o Caminho? Por que não queres?
- É que me falta "juízo".
- Que seja então! Mas afinal, o que eles perdem, Zumbi? Quero saber, pois, a mim também sua teoria se refere.
- E não está claro, meu jovem amigo Jumbá? Pensei ter ouvido a resposta em tuas palavras.
Com um ar de irreverência Jumbá conclui a prosa:
- Zumbi andas sem juízo mesmo, começas pelos mancos, muletas e acabas com a negação do ideal para o homem; com medo de sofrer nesta vida.
Zumbi, vendo o amigo como um fruto verde, espera que um dia ele amadureça; será um maduro fruto tardio?
Carlos Tenório